domingo, maio 31, 2009

PALAVRAS, NADA MAIS...

De vez em quando, eu entro em determinadas discussões acerca do significado de certas palavras. Palavras, como se sabe, são bem plásticas, adequam-se à vários contextos alterando o seu significado e/ou classe. Nós, que as inventamos e usamos, temos a tendência a nos apegarmos aos significados que se aplicam melhor à nossa visão de mundo, a nossos preconceitos, crenças e idéias. Claro que em uma conversa, dependendo de como cada parte interpreta a palavra usada, podem surgir ruídos de comunicação.
Eis algumas palavras que já deram o que falar:

1. RADICAL. Em uma conversa com um conhecido sobre pena de morte, a outra parte defendia a pena de morte para delitos leves (Segundo ele, era assim que a Sociedade Romana, acho, funcionava). Eu comentei que a sua atitude era um tanto radical. A partir daí, a conversa se tornou uma longa (até demais) discussão sobre o significado de radical, já que na sua opinião o meu uso da palavra era errôneo. A minha definição da palavra era a de algo invariável, extremo. A dele, de raiz. Ambas as definições estavam certas, mas para ele a minha não servia pois se afastava da palavra latina original. No debate que se seguiu, defendia a idéia de que a língua e suas regras, portanto as palavras, eram variáveis ao longo do tempo. Se assim não o fosse, estaríamos falando latim até hoje.

2. SEITA. O sentido original da palavra seita significa ramo dissidente de uma Igreja e/ou Religião estabelecida. Popularmente, e quase sempre em caráter depreciativo, é usada para designar um grupo de pessoas que segue uma doutrina que não é aceita pela maioria e que pode seguir padrões que não são aceitos pela Sociedade. Neste caso, eu acredito que a segunda definição é uma deturpação da primeira, por motivos óbvios: As grandes Religiões atuais são seitas de outras Religiões. Marcadamente, o Cristianismo (para a infelicidade de alguns cristãos), bem como o Islamismo, são seitas Judaicas.
Geralmente, quando alguém implica com um grupo religioso, chamando-o de seita de forma depreciativa, eu lembro do caráter “seitanico” do próprio Cristianismo. Vale lembrar que a famosa perseguição na Antiguidade aos primeiros cristãos não era apenas uma implicância pelo diferente, mas uma reação à crescente ameaça que esses pequenos grupos representavam ao status quo. Imagine se alguém chegasse à porta de sua casa, dissesse ao seu filho que ele deveria abandonar tudo, lar e pais, para seguir uma religião, e ele fosse. Se isso é drástico hoje, imagine em um tempo em que a continuidade da família (e de seus títulos e negócios) se dava através dos filhos!
Em relação às perseguições, não é nada muito diferente de hoje em dia, onde vários grupos cristãos de caráter conservador se unem a governos de extrema direita na tentativa de suprimir as mudanças exigidas por alguns, inclusive outros cristãos. Eis o caráter irônico da História: Como eventualmente alguns papéis podem ser invertidos.

3. TEORIA. Uma palavrinha que me dá constantemente dor de cabeça. Na noção popular, significa essencialmente uma especulação, um palpite. Resumindo, um achismo. Academicamente, uma explicação viável a um fato observado, um modelo construído a partir de dados empíricos e experimentos. A dor de cabeça resulta de discussões sobre Evolução com pessoas com crenças criacionistas (inclusive outros biólogos), que confundem essas duas definições. Toda vez que eu ouço a frase “a Evolução é apenas uma teoria”, eu tento explicar a diferença. Tento, pois geralmente, às vezes na mesma conversa, a outra parte insiste em usar a definição popular para se aplicar à Teoria Científica.

4. EVOLUÇÃO. Ao contrario do que muita gente pensa, o termo Evolução já existia antes mesmo de Darwin nascer, portanto não foi criado por ele. Foi usada originalmente para descrever o desenvolvimento embrionário (Do latim evolvere, desenrolar, já que o homem que cunhou o termo acreditava que havia homúnculos dentro dos gametas, que se desenrolavam e desenvolviam em ambiente propício.). Posteriormente, definia o processo de desenvolvimento progressivo dos seres vivos, desde organismos mais simples aos mais complexos (traduzindo: Nós). Na época de Darwin, essa era a noção vigente, com evolucionistas famosos como Haeckel e Lamarck dividindo opiniões: O aumento da complexidade podia ser ou não direcionado. Devido a isso, Darwin evitou usar o termo Evolução em “A Origem das Espécies” e, após a publicação de sua obra, lutou inutilmente para desassociar o termo de sua Teoria, a descendência com modificações ou Seleção Natural, já que não tinha nada a ver com a noção de progresso ou aumento de complexidade. No entanto, essa definição existe até hoje e Darwin é injustamente acusado de ser o responsável pelo seu surgimento (Também é o “responsável” pelo crescente Materialismo da Sociedade e pelo afastamento de Deus nos corações das pessoas, mas vou falar disso em outra ocasião).
A quem interessar possa, a Seleção Natural diz respeito à transmissão de características favoráveis à adaptação de um organismo a um determinado meio. Tanto o surgimento dessas características, sua transmissão e possíveis mudanças no meio ambiente são frutos do mero acaso. Essas mutações se acumulam ao longo do tempo e favorecem o desenvolvimento de novas espécies, que se ramificam a partir de um descendente em comum. Não há progresso ou sucessão nisso e o homem não é o ápice desse processo, mas apenas mais um produto. Tanto que Darwin representou isso através de ramificações em uma árvore e não em uma escada, como era comum até então e vemos até hoje em determinados livros. De certa forma, Darwin derrubou até mesmo a definição de Evolução da época (mas não totalmente, como vimos). Aliás, é interessante como podemos estabelecer padrões evolutivos também a Religiões, estabelecendo “descendentes” em comum e ramificações representando as seitas/novas Religiões.
Acho que a interpretação mais bombástica disto não é que descendemos de macacos, mas que TODOS os seres vivos descendem de vermes. Ou, retrocedendo ainda mais, de bactérias.

5. ACASO. Se eu jogo um dado de seis lados (existem com mais, antes de qualquer comentário), o acaso “decide” qual número vai ficar em evidência. Se fosse uma moeda, “definiria” se seria cara ou coroa. As aspas representam a falta de propósito em tais eventos (Tirando os casos de vício, é claro). Direção de ventos, movimentos de águas, acidentes, caminho de uma gota nas costas da mão, movimento de partículas ou moléculas de um gás. Os rumos da natureza são regidos por eventos aleatórios. Ou seja, pelo acaso. Incluindo mutações e a transmissão de características genéticas. Isso fica bem demonstrado na meiose e na distribuição de cromossomos nos gametas. Como diz o Violins, é “o acaso que rege o mundo”.
Essa noção, implícita na Teoria de Darwin, é que apavora tanto as pessoas (até o próprio Darwin, que foi acometido de uma série de doenças nervosas e levou 21 anos até revelar sua idéia ao mundo. Se não fosse o surgimento de Alfred Wallace com a mesma Teoria, talvez levasse mais tempo). E a própria Natureza, antes direcionada pela Mão Divina, toma proporções terríveis. Nem mesmo uma ótima combinação de genes garante totalmente o sucesso e a transmissão desses a uma ascendência, já que esse indivíduo pode não atingir a idade reprodutiva: Um filhote despreparado pode ser vítima de um predador ou um adulto pode morrer em um incêndio, entre outras possibilidades, sendo a mais terrível chamada Humanidade, que mudou de forma drástica os caminhos naturais (que o diga o Mamute).
A definição comum de acaso significa sorte, fortuna, acontecimento imprevisto. Ou seja, algo mais ligado ao pensamento mágico, como peças de um avião em um ferro velho voando em uma tempestade se combinando para originar um Boeing ou um dado de seis lados dando um lado sete. Acaso (ou aleatoriedade ou , usando de um anglicismo, randomicidade), diz respeito a vários caminhos possíveis dentro de um numero de opções possíveis. Está intimamente relacionado à chamada Teoria do Caos. O grande problema é que esses caminhos não obedecem a um desígnio ou Lei aparentes (Uma gota de chuva obedece estritamente à Lei da Gravidade, mas onde vai cair depende de uma série de fatores). Portanto são, segundo alguns, mais uma definição do Materialismo Cientifico.
Os críticos dizem que não existe acaso, já que Deus controla até mesmo o vôo e a queda dos pássaros (Mas aviões caem por obra do Outro, que fique bem claro). Os críticos dos críticos dizem que o livre arbítrio, desta forma, se torna uma nulidade (eis uma discussão interessante!). Apesar da diferença de motivos, a Ciência também afirma que não há acaso. Para se calcular a velocidade de um objeto, por exemplo, não é importante saber seus caminhos e sim sua posição inicial e final. Do mesmo modo, o Universo teve um início e terá um fim. Portanto, não há muita importância dos rumos que suas partículas tomaram, já que no final vão te o mesmo destino. Eis a grande ironia: Talvez haja Propósito, afinal.

MAXOEL adora uma boa discussão e apesar de reclamar, se tornou viciado nelas. E ele adoraria estar presente ao Fim do Universo e adoraria conseguir uma reserva em um famoso restaurante que fica por lá.

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