terça-feira, novembro 13, 2012

GRAPHIC NOVEL # 1 - PINÓQUIO, DE WINSHLUSS

Pinóquio foi escrito e desenhado por Winshluss – pseudônimo de Vincent Paronnaud, co-diretor de Persepolis e Frango com Ameixas, ambos baseados na obra de Marjane Satrapi (Recomendo fortemente o primeiro e espero ver o segundo). O Pinóquio original, de Carlos Collodi, é um “Cautionary Tale”, onde o personagem principal passa por várias provações e é punido por cada uma de suas infrações (nariz cresce quando mente, vira burro quando se entrega à preguiça, etc.), sendo recompensado quando se torna um bom menino.

Esta é uma livre adaptação, como o autor diz no início, do conto original. Esqueça a história infantil. Aqui, a realidade é suja, podre, (quase) ninguém é puro ou inocente. Todos tem algo a esconder. O personagem principal, Pinóquio, é um autômato feito por Gepeto originalmente como uma arma de guerra, um supersoldado, com a qual ele sonha ficar milionário.


Um personagem secundário, mas não menos importante, é Jiminy Barata (como o nome sugere, uma barata que substitui o Jiminy Cricket, ou Grilo Falante, como é conhecido por aqui), um boêmio, escritor fracassado que não tem onde morar e que adota o Pinóquio como um apartamento. Ao mexer na “fiação” do novo apartamento, acaba gerando um defeito que faz com que o Pinóquio tenha uma certa autonomia (ou algo próximo a uma consciência), que faz com que ele saia da casa do Gepeto, após um acidente doméstico nada peculiar, e vagueie pelo mundo.
















Na maior parte do tempo, ele apenas observa e acompanha o fluxo dos acontecimentos, sendo jogado de um canto a outro e testemunhando vários fatos que demonstram muitos aspectos negativos da natureza humana: luxúria, ganância, maldade, crueldade, avareza, covardia, abandono, exploração dos mais fracos, violência sem sentido, etc. Em alguns raros momentos, Pinóquio mostra a sua verdadeira natureza de máquina de guerra, por influência de Jiminy Cricket. Mesmo assim, é inocente por ser não ser o agente direto desta e de outras ações.



O álbum apresenta várias histórias paralelas que num momento ou em outro se encontram com a trama principal, mesmo que a princípio pareçam estar perdidas na trama. Mas lembre-se: não há pontas soltas e nada é gratuito. Todas essas histórias estão ligadas ao personagem principal, influenciando seu caminho ou sendo influenciados por sua jornada. A subversão dos contos infantis também estendem-se para a Branca de Neve, que tem uma relação nada sadia com os Sete Anões, e o Flautista de Hamelin.



O texto é quase inexistente, sendo que a história é praticamente toda contada apenas com o uso de imagens, que são fabulosas. Cada quadro, cada painel, cada página é calculada para ser perfeita. O autor não se prende a um estilo, utilizando pranchetas coloridas, o formato em P&B de tiras diárias ou coloridas em duas cores das tiras dominicais da Era de Ouro. Lembra arte impressionista, Robert Crumb, Andy Warhol, quadrinistas cômicos europeus e até Disney. Há até referências à George Meliès.

Recomendo a todos que gostem de quadrinhos e/ou artes gráficas e/ou boa literatura.

Título: Pinóquio
Autor: Wincluss
Páginas: 192
Preço: R$ 75,00