Na época de seu lançamento, esta
obra, escrita e desenhada por David Mazzuchelli, foi uma sensação: concorreu a
quatro Eisner Award (Ganhou três, Melhor Álbum Inédito, Melhor Escritor/Artista
e Melhor Leitreramento) e colecionou outros inúmeros prêmios. Entrou nas listas
de melhores de 2009, quando foi lançado lá fora, repetindo esse feito no Brasil
em 2011, quando foi publicado aqui. Ganhou vários prêmios em 2010, incluindo
três Harvey (Melhor letreirista, melhor Graphic Novel original e melhor edição
ou história), prêmio especial em Angoulême, o maior prêmio europeu de
Quadrinhos, Grand Prix de la Critique, ganhou o primeiro Los Angeles Times Book
Prize para Quadrinhos e mais um monte de outros prêmios e indicações ao redor
do mundo.
Daredevil: Born Again |
Mazzuchelli já era conhecido da
mídia, quando desenhou o título do Demolidor, para a Marvel e Batman, para a
DC. Em parceria com o outrora genial e hoje caduco Frank Miller, produziu duas
obras-primas das HQs de super-heróis modernas: Demolidor – A Queda de Murdock
(Marvel) e Batman – Ano Um, ambas lançadas originalmente em edições mensais,
mas que ainda alcançam considerável sucesso na forma de encadernados (ou TPBs).
Batman: Year One |
Depois disso, Mazzuchelli
abandonou a indústria mainstream e partiu para projetos mais pessoais. Publicou
a antologia Rubber Blanket e co-escreveu e desenhou Cidade de Vidro, uma
adaptação do livro de Paul Auster. Nestas obras, utilizou experimentalismos que
culminariam em Asterios Polyp.
"The Big Man", Rubber Blanket # 3 |
Paul Auster's City of Glass: The Graphic Novel |
A história do livro não tem nada
demais. Embora seja contada de maneira envolvente, não há muitas novidades na trama básica: um homem que perde quase tudo
reconstrói sua vida e seu modo de ser ao mesmo tempo em que tenta entender o
que fez de errado em seu passado. No início da trama, tudo que lhe resta são a
roupa no corpo, um canivete suíço, um isqueiro e um relógio, objetos que
possuem um imenso valor sentimental para o personagem (e que são utilizados
como marcos de sua mudança). Por meio de flashbacks, descobrimos que foi ele
casado e as razões por que está sozinho.
O surpreendente, mesmo, nesta Graphic
Novel é o modo como Mazzuchelli conta a história. Ele utiliza de forma ousada
os elementos gráficos típicos de HQs, como onomatopéias, balões, cores,
enquadramentos, etc., para conduzir a trama de forma magistral. Nada aqui é
despropositado. Os detalhes, por menores que sejam, são repletos de significado
e intenção. O destaque do álbum é o jogo narrativo que Mazzuchelli conduz com variação
de traço, colorização e fontes de texto, criando uma história que só poderia
ser contada com o que os quadrinhos podem oferecer.
A história é narrada pelo irmão
gêmeo natimorto de Asterios, Ignazio. Asterios é um famoso arquiteto de papel
(seus projetos nunca foram construídos) obcecado pela dualidade pela ordem. Para
ele, tudo pode ser encaixado em dualidades: preto e branco, homem e mulher,
cara e coroa, opostos que se complementam. Essa dualidade está presente na obra
em detalhes aparentemente insignificantes (como o nome da mãe de Asterios e
Ignazio, Aglia Oglio) e acaba se refletindo no próprio Asterios (Há o Asterios
“de antes” e o “de depois”, cada um com suas particularidades, díspares, porém,
complementares; o próprio fato dele ter um irmão gêmeo, que passa a representar
a sua metade perdida, etc.).
Asterios é obcecado pela ordem e
acredita saber todas as respostas e estar sempre certo. As próprias formas do Asterios
refletem essa austeridade, através de formas geométricas precisas (notem as
formas de sua cabeça e como ele se desdobra nos momentos em que sua). Os
contrapontos entre ele e a Hana, seu par romântico, também mostram isso. Hana é
representada pela cor vermelha, indicando sentimento, paixão, enquanto Polyp é
representado pelo azul, uma cor mais fria e que remete à ordem, razão,
mostrando um embate entre razão e sentimento (olha a dualidade aí novamente).
Esse recurso também serve para exemplificar o que é explicado no início do
livro, sobre o modo como cada personagem se vê no mundo.
Começei a ler Asterios Polyp de
maneira despreocupada, mais ligado à trama que aos gráficos. Certos detalhes você
acaba percebendo de cara e outros são mais sutis (um deles, eu só fui perceber quando
estava além da metade do livro, o que me fez retornar à primeira página só para
pescar esse e outros).
Mal acabei de ler e logo comecei
a folhear o livro de novo, com um olhar mais crítico e atento.
Título: Asterios Polyp
Autor: David Mazzucchelli
Editora: Quadrinhos na Cia. (Cia. Das Letras)
Páginas: 344
Preço: R$ 63,00
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